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Al  Baba

e os 40 Ladrões

Ali Baba e os 40 Ladrões I AUDIOBOOKLido por Leonardo Bigio
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Dois irmãos moravam numa cidade da Pérsia; um rico chamado Cassim, e o outro pobre que se chamava Ali Baba. Cassim vivia em abundância desde que tinha se casado com uma princesa riquíssima, enquanto Ali Baba sustentava a esposa e os filhos cortando madeira na floresta e a vendendo na cidade.

 

Um dia, quando Ali Baba andava na floresta, ele viu um bando de homens a cavalo vindo em sua direção como se fosse uma nuvem de poeira. Ele temia que aquele fosse um bando de ladrões e correu pra cima de uma árvore para se proteger. Os homens vieram até logo abaixo de onde Ali Baba estava e desmontaram de seus cavalos. Os homens eram muito fortes, seus rostos brilhavam de suor, a pele calejada pelo sol e por batalhas. Em silêncio, Ali Baba contou quarenta deles. O bando amarrou os cavalos às árvores ao redor. O mais incrível dentre eles, a quem Ali Baba considerou ser o capitão do bando, andou um pouco entre algumas pedras adiante e disse como num sussurro: 

 

- Abra-te, Sésamo.

Foi então que uma porta se abriu por dentre as pedras, e uma vez que o bando entrou por ela, a porta rapidamente se fechou. Os ladrões ficaram algum tempo lá dentro, e Ali Baba, temendo que os homens pudessem sair enquanto ele descia da árvore, decidiu esperar em silêncio onde estava. Algumas horas se passaram. Finalmente a porta se abriu novamente e os quarenta ladrões saíram de lá. Se antes o capitão tinha sido sido o último a entrar, agora ele era o primeiro a sair; e ele assim fez questão que todos os outros homens passassem por ele antes de irem embora; depois o capitão se virou e disse:

- Fecha-te, Sésamo!

 

E montado em seu cavalo, o capitão se colocou à frente do bando; assim quarenta ladrões foram embora da mesma forma que vieram.

Ali Baba desceu e foi até a porta escondida entre as pedras e repetiu baixo as mágicas palavras:

- Abra-te, Sésamo! - e ela se abriu.

Ali Baba, que esperava um esconderijo qualquer e escuro de homens selvagens, encontrou na verdade um grande salão bem iluminado, esculpido pela mão de um artista na forma de um cofre. Luz banhava o local através de uma abertura no teto. Ali Baba viu mercadorias ricas - seda, brocados, todos empilhados - ouro e prata em montões e dinheiro em bolsas de couro. Quando ele entrou, a porta se fechou atrás dele. Ali Baba pegou tantas sacolas de ouro quanto julgava que seus jumentos, que estavam esperando do lado de fora, podiam carregar. Ele carregou o ouro e escondeu com palha. Usando as palavras: “Fecha-te, Sésamo.",

 

Ali Baba enfim fechou a porta do salão e foi para casa sem levantar suspeitas.

Ele seguiu com os jumentos para o quintal, fechou os portões. Em seguida, ele levou os sacos de dinheiro para a esposa e os esvaziou diante dela. Ali Baba disse para que ela guardasse o segredo, e que enterraria a maior parte do ouro.

 

- Deixe-me primeiro medir. - disse sua esposa. Vou pegar uma medida emprestada enquanto você cava o buraco.

 

A mulher correu para a esposa de Cassim, o irmão rico de Ali Baba, e pediu uma medida emprestada. A esposa de Cassim achou o pedido estranho vindo de um casal tão pobre. Ela ficou curiosa para descobrir que tipo de grão exatamente a esposa de Ali Baba queria medir com tanta urgência e, artisticamente, colocou um pouco de sebo na parte inferior da medida.

A esposa de Ali Baba foi para casa e colocou a medida na pilha de ouro, enchendo e esvaziando com frequência. Quando ela levou a medida de volta para a esposa de Cassim, não percebeu que um pedaço de ouro ficou grudado no sebo embaixo dela, ouro que a esposa de Cassim percebeu imediatamente. 

 

- Cassim, seu irmão é mais rico que você. - disse ela ao marido. Tanto, que ele não conta o dinheiro, ele o mede.

 

Ela mostrou o pedaço de ouro e disse onde o encontrara. Naquela noite, Cassim não conseguia dormir direito e antes do nascer do sol, decidiu ir falar com o irmão. 

 

- Ali Baba, - disse Cassim, mostrando-lhe a peça de ouro - como alguém finge ser pobre e ainda assim mede ouro? 

 

Ali Baba confessou tudo e ofereceu dividir metade do tesouro.

- Isso já era certo., disse Cassim. - Mas eu preciso saber onde encontrar o restante desse ouro, caso contrário descobrirei tudo e você ficará sem nada. 

 

Ali Baba, mais por gentileza do que por medo, contou a Cassim sobre a caverna e as palavras exatas a usar. Cassim, pretendendo obter o tesouro todo para apenas para si mesmo, voltou para casa e se preparou para partir com dez mulas carregadas de grandes sacolas vazias.

Cassim logo encontrou o lugar do salão e a porta nas pedras da floresta. Ele gritou as palavras mágicas:

 

- Abra-te, Sésamo! 

 

E a porta se abriu e se fechou atrás dele. Cassim estava tão hipnotizado com o que via, que ele poderia ficar apenas olhando o dia inteiro para o ouro, mas enfim decidiu ser melhor reunir o máximo possível e ir embora; porém, quando estava pronto para partir, ele se virou para a porta e nenhuma palavra lhe veio à mente. Cassim tinha se esquecido quais eram as palavras mágicas.

 

- Abra-te, ce...vada (?) - disse ele, e a porta permaneceu fechada. 

 

Ele gritava todos os tipos diferentes de grãos que conseguia pensar, arrancando os cabelos, esfregando o rosto suado. Ele falava de tudo, menos o correto, e a porta permanecia fechada. Era como se Cassim nunca tivesse sequer ouvido a palavra correta a se dizer.

Depois de muitas horas assim, Cassim ouviu o correr de cavalos a distância. Do lado de fora, quarenta ladrões voltavam para a caverna e viam as mulas de Cassim vagando com grandes baús nas costas, esperando pelo ouro que não carregariam. Os ladrões sacaram seus sabres e se posicionaram frente a porta. Cassim se preparou também, mas para tentar fugir assim que a porta se abrisse e, quando isso aconteceu, ele se jogou em cima do capitão. A tentativa foi em vão. 40 sabres logo o mataram. O bando cortou o corpo de Cassim em quatro pedaços e os pregaram dentro do salão a fim de assustar quem mais ali quisesse se aventurar, e foram embora em busca de mais tesouros.

A noite veio. A esposa de Cassim, preocupada que seu marido não retornava, correu para a casa de Ali Baba e contou aonde o marido fora. Ali Baba partiu para a floresta em busca de Cassim, mas a primeira coisa que ele viu ao entrar na caverna foi seu irmão morto. Cheio de horror e tristeza, ele colocou o corpo em um de seus jumentos, e encheu sacos de ouro nos outros dois e, cobrindo todos com palha, voltou para casa. Ele levou os dois jumentos carregados de ouro para o próprio quintal e levou o outro com seu irmão para a casa de Cassim. A porta foi aberta pela escrava Morgiana.

- Este é o corpo de seu mestre Cassim, ele foi assassinado - disse Ali Baba, sabendo que a escrava era corajosa e inteligente.

 

- Devemos fazer com que pareça que ele morreu por ter adoecido em sua própria cama. Em breve nos falaremos de novo, mas por agora diga à viúva dele que eu vim. 

 

A esposa de Cassim, ao saber o destino de seu marido, chorou. Ali Baba ofereceu sua casa para ela morar contanto que a mulher prometesse manter segredo e deixar que a escrava Morgiana faria o que fosse necessário; a mulher concordou e secou os olhos.

Enquanto isso, Morgiana procurou um farmacêutico e pediu remédios. 

 

- Meu pobre mestre - disse ela -   ele não consegue comer nem falar, e ninguém sabe qual é a sua doença. 

 

No dia seguinte ela voltou chorando, e pediu uma essência dada apenas aos que estão prestes a morrer. Assim, quando outra noite veio, ninguém ficou surpreso ao ouvir os gritos da esposa e de Morgiana, avisando a todos que Cassim estava morto. No dia seguinte, nas primeiras horas da manhã, Morgiana foi a um velho sapateiro perto dos portões da cidade e colocou um pedaço de ouro em sua mão.

 

- Vem comigo. E traga agulha e linha. - disse ela. 

 

Morgiana vendou os olhos do sapateiro com um lenço e o levou para a casa onde estava o corpo de Cassim, tirou os curativos e ordenou que ele costurasse as quatro partes separadas. Uma vez que isso foi feito, ela cobriu os olhos dele novamente e o levou de volta. Assim Cassim teve um enterro formal, e a escrava Morgiana o seguiu até o túmulo, chorando e arrancando os cabelos, enquanto a esposa de Cassim ficou em casa ecoando lamentos. No dia seguinte, a viúva de Cassim foi morar com o cunhado e deu a loja do falecido marido ao filho mais velho de Ali Baba.

Os quarenta ladrões, ao voltarem para a caverna, não encontraram o corpo de Cassim e deram falta de algumas sacolas de ouro.

 

- Parece que outra pessoa descobriu o nosso segredo. Outra pessoa roubou nosso trabalho. - disse o capitão - Pensem em todas as pessoas que matamos para chegar até aqui, pensem em todos os outros que perdemos. Vocês estão me ouvindo? Se não descobrirmos quem é essa pessoa, tudo isso terá sido para que alguma sanguessuga miserável venha viva do nosso sangue, do nosso suor!

 

- Se pelo menos dois homens sabiam do nosso tesouro, um nós já matamos; resta encontrar o outro. Um de vocês vai entrar na cidade disfarçado de viajante para descobrir quem foi o homem que cortamos em quatro. Um de vocês vai descobrir se a cidade fala de  maneira estranha da sua morte. Qual de vocês é ousado e astuto o suficiente? Qual de vocês vai honrar o bando dos 40 ladrões? Porque caso o mensageiro fracasse, ele deve perder a vida para que não sejamos traídos.

 

Um dos ladrões se levantou, e depois que o resto do bando o elogiou por sua bravura, ele se disfarçou e partiu para a  cidade ao amanhecer. Lá, logo na entrada, ele encontrou a barraca do sapateiro Baba Mustapha, sempre a primeira loja a se abrir. O ladrão disfarçado lhe deu bom dia:

 

- O senhor não deveria estar aposentado, meu bom homem?

 

- Mesmo tão velho como estou - respondeu o sapateiro - tenho olhos muito bons e costuro melhor que qualquer jovem da região. Você acredita que esses dias mesmo eu costurei um cadáver? E num lugar menos iluminado do que agora.

 

Assim que ouviu isso, o ladrão ofereceu um pedaço de ouro ao sapateiro e pediu para ver a casa onde o sapateiro Mustapha costurou tal corpo. A princípio Mustapha recusou, dizendo que seus olhos estavam vendados.

- Eu não consegui ver nada, não consegui ver nada...

 

O ladrão lhe deu mais um outro pedaço de ouro, e Mustapha de repente disse que talvez poderia se lembrar dos arredores se fosse vendado como antes. O método funcionou; e o ladrão guiava Mustapha e, ao mesmo tempo, Mustapha guiava o ladrão; e assim os dois chegaram bem na frente da casa de Cassim, cuja porta o ladrão marcou com um pedaço de giz para não se esquecer qual casa era. O que ele não contava é que a escrava Morgiana viu a marca que o ladrão havia feito e rapidamente adivinhou que alguma coisa estranha estava acontecendo. Morgiana pegou também um pedaço de giz e marcou outras duas ou três casas de cada lado da de Cassim, sem dizer nada a ninguém.

O ladrão voltou para a floresta e contou a seus companheiros sua descoberta. O capitão o agradeceu e pediu que ele lhe mostrasse a casa que havia marcado. Mas, quando chegaram, viram que cinco ou seis das casas estavam riscadas da mesma maneira. O ladrão ficou tão confuso, que ele não sabia qual resposta dar e, quando voltaram, ele foi decapitado por ter falhado.

 

Outro ladrão se voluntariou para a missão e, tendo também encontrado o sapateiro Baba Mustapha, marcou a casa com giz vermelho; mas Morgiana - novamente inteligente demais para eles - fez com que o segundo mensageiro também fosse morto.

 

Dessa vez, o próprio capitão resolveu ir sozinho. Diferentemente dos outros, ele não marcou a casa com giz, e sim olhou tão de perto e tão atentamente para ela, que não seria capaz de se esquecer. Ele voltou para o bando e ordenou que seus homens fossem para as aldeias vizinhas e comprassem dezenove mulas e trinta e oito jarros de couro, todos vazios, exceto por um, que ficaria cheio de óleo. O capitão colocou cada um de seus homens, totalmente armados, em cada um dos jarros, esfregando a parte externa dos potes com óleo do vaso cheio. As dezenove mulas foram carregadas com trinta e sete ladrões em potes e jarras de óleo, chegando à cidade ao entardecer. O capitão, disfarçado de comerciante de óleo, parou suas mulas na frente da casa de Ali Baba, que estava sentado do lado de fora naquele momento.

 

- Bom homem, olá. Olá! Eu trouxe óleo de muito longe para vender no mercado de amanhã, mas eu me atrapalhei e ficou tão tarde, que não sei por onde passar a noite; você me acolheria em troca do produto?

 

Embora Ali Baba tivesse visto o rosto do capitão dos ladrões na floresta, ele não o reconheceu disfarçado de comerciante de óleo. Ali Baba deu as boas-vindas ao estrangeiro e abriu os portões para que as mulas entrassem. Ele pediu a Morgiana que preparasse uma cama e jantar para o convidado e trouxe o comerciante para o seu aposento principal. Depois que eles jantaram, voltou a falar com Morgiana na cozinha, enquanto o capitão entrava no quintal sob o pretexto de cuidar de suas mulas, mas na verdade era para dizer a seus homens o que fazer. Começando pelo primeiro pote e terminando no último, ele disse a cada um dos homens:

 

- Assim que eu atirar algumas pedras da janela do quarto onde estou, corte os frascos com suas facas e saia; estarei com vocês logo em seguida.

 

Ele voltou para a casa, e Morgiana o levou para seu quarto. A escrava estava sem sono e, como as lâmpadas estavam todas sem combustível, a escrava resolveu pegar um pouco do óleo do quintal. 

 

- Já está na hora? - ela ouviu uma voz sussurrar de dentro de um jarro.

 

Qualquer outro escravo, ao entender que tinha um homem ali dentro ao invés do óleo que ela queria, teria gritado e feito barulho; mas não Morgiana. E sabendo o perigo em que seu mestre agora estava, pensou num plano e respondeu ao ladrão em voz baixa na voz mais masculina que conseguia:

 

- Ainda não, mas em breve.

 

Ela foi a todos os jarros, dando a mesma resposta, até chegar ao pote que era somente de óleo. Morgiana entendeu que Ali Baba, com a intenção de ajudar um comerciante de óleo falso, havia deixado trinta e oito ladrões entrarem na casa. A escrava então encheu o seu pote de óleo, voltou à cozinha e, depois de acender a lâmpada, foi novamente ao pote de óleo e encheu uma grande chaleira de óleo. Quando tudo ferveu, ela foi até os jarros e derramou óleo suficiente em cada um, sufocando e matando todos os ladrões. Quando ela terminou, Morgiana voltou para a cozinha, apagou o fogo e a lâmpada e esperou calada para ver o que aconteceria.

Quinze minutos se passaram, e o capitão dos ladrões acordou. Ele se levantou e abriu suavemente a janela. Como tudo parecia quieto, ele jogou algumas pedrinhas nos frascos. Ele esperou pela resposta de seus homens, mas nenhuma veio. O capitão ficou inquieto e desceu para o quintal.

 

- Ei, você está dormindo?, ele disse para o primeiro jarro.

 

Foi quando o capitão sentiu o cheiro do óleo quente e soube imediatamente que o seu plano tinha sido descoberto. Toda a gangue estava morta e, percebendo a falta do óleo do último frasco, entendeu como isso tinha acontecido. Ele então forçou a fechadura de uma porta que dava para o jardim e, escalando por várias paredes, conseguiu fugir. Morgiana ouviu e viu tudo isso acontecer e, animada por ter destruído o plano dos ladrões, foi para a cama e dormiu.

Ao amanhecer, Morgiana mandou que Ali Baba olhasse no primeiro frasco. Vendo um homem lá dentro, Ali Baba se afastou aterrorizado.

- Não precisa ter medo, mestre. - disse Morgiana. - Esse homem não pode mais te machucar: ele morreu.

 

Ali Baba, quando se recuperou um pouco do espanto, perguntou o que havia acontecido com o comerciante.

 

- Comerciante! - Disse Morgiana - Ele é tão um comerciante quanto eu sou uma comerciante. 

 

E ela contou a história toda, assegurando que era uma trama dos ladrões da floresta, dos quais restavam apenas três, e que as marcas de giz branco e vermelho tinham algo a ver com isso. Ali Baba finalmente deu a liberdade para Morgiana, dizendo que ele a devia a vida. Eles então enterraram os corpos no jardim de Ali Baba, enquanto as mulas foram vendidas no mercado da cidade.

O capitão voltou para sua caverna solitária. Ela parecia assustadora agora, sem os companheiros perdidos. Ele fechou os punhos firmemente e resolveu se vingar.

 

O capitão se disfarçou com ainda mais cuidado e foi para a cidade, onde se alojou numa pousada. No decorrer de muitas viagens à floresta, ele trouxe muitos objetos ricos e muito linho fino, e montou uma loja em frente à do filho mais velho de Ali Baba. O capitão assumiu o nome de Cogia Hassan e, como ele era civilizado e bem vestido, logo fez amizade com o filho de Ali Baba e o convidou para que jantassem juntos. Ali Baba, desejando devolver a gentileza, convidou o comerciante na sua própria casa e o recebeu sorrindo, agradecendo pelas gentilezas para com o filho.

Ali Baba pediu que o comerciante ficasse para o jantar, mas o homem recusou; e ele disser ter uma razão constrangedora; e, depois que Ali Baba perguntou o que era, o comerciante respondeu:

- É que, meu senhor, eu não posso comer alimentos que contenham sal. 

 

- Ora, mas se é só por causa disso - disse Ali Baba, - não se preocupa. Não haverá sal nem na carne nem no pão que comeremos esta noite.

 

Ali Baba foi dar essa ordem a Morgiana.

 

- Mas quem é esse homem? - disse ela desconfiada - que não come sal com a carne na sua casa?

- Ele é um homem honesto, Morgiana - respondeu Ali Baba - Pode fazer como te falo.

 

Mas Morgiana não pôde suportar o desejo de ver esse homem estranho e foi espiar o convidado. Ela viu que esse tal comerciante chamado Cogia Hassan era na verdade e mais uma vez o capitão dos quarenta ladrões. Ela viu também que o homem carregava uma adaga sob a roupa.

 

- Nossa, que original. - pensou ela,  - Não me surpreende que esse homem perverso, que pretende matar meu mestre, não coma sal com Ali Baba.

 

Em silêncio, Morgiana se preparava para um dos atos mais ousados de sua vida. Depois de comerem, quando a sobremesa foi servida, Cogia Hassan ficou sozinho com Ali Baba e seu filho, momento no qual o ladrão planejava embebedá-los para depois atacar. Antes que isso pudesse acontecer, Morgiana vestiu uma roupa de dançarina e apertou um cinto em volta da cintura, do qual pendia uma adaga com um punho de prata. A ex-escrava ordenou que Abdallah  pegasse seu tambor e tocasse uma música que desviasse a atenção de Ali Baba e de seu convidado.

Abdallah pegou seu tambor e tocou diante de Morgiana até chegarem à porta, onde Abdallah parou de tocar e Morgiana fez uma cortesia baixa.

 

- Pode entrar, Morgiana - disse Ali Baba - E deixe Cogia Hassan ver o que você pode fazer - E, voltando-se para Cogia Hassan. - Ela era minha escrava e agora é minha governanta.

 

Cogia Hassan não estava de forma alguma satisfeito, pois temia que sua chance de matar Ali Baba ali mesmo tivesse que esperar mais um pouco. Abdallah começou a tocar seu tambor; e Morgiana começou a dançar com seu corpo. A mulher sacou a adaga de prata a passeou com ela pelo seu corpo por várias danças, às vezes apontando para o próprio peito, outras vezes para o do mestre, como se tudo fosse mera parte da dança. De repente, já sem fôlego, ela pegou o tambor de Abdallah com a mão esquerda e, segurando a adaga na mão direita, estendeu o tambor ao mestre. Ali Baba e seu filho colocaram um pedaço de ouro nele como presente, e Cogia Hassan, vendo que a mulher vinha na direção dele, pegou sua bolsa também lhe dar um presente também. Nesse momento, enquanto ele colocava a mão na bolsa, Morgiana mergulhou a adaga no coração do capitão dos ladrões.

 

- Morgiana, garota infeliz! - exclamou Ali Baba - por que você faria isso, para nos arruinar?

- Não, mestre - respondeu Morgiana.

 

- Veja aqui! - A mulher abriu a roupa do falso comerciante e mostrou a adaga que ele carregava. - Veja o inimigo que você entreteve! Ele não queria comer sal com você, ele não respeitaria a sacralidade da sua hospitalidade. Olhe bem para ele! Esse é tanto o falso comerciante de óleo como também é o capitão dos quarenta ladrões.

 

Ali Baba não acreditou o quão ingênuo tinha sido. Ele ficou tão agradecido a Morgiana por salvar sua vida pela segunda vez, que ele ofereceu seu filho mais velho em casamento. Morgiana prontamente consentiu, e alguns dias depois o casamento foi celebrado com o maior esplendor.

Um ano inteiro se passou, e Ali Baba, vendo que nenhum outro ladrão veio atrás deles, julgou que todos estavam mortos, e partiu para a caverna do tesouro.

 

- Abra-te, Sésamo! - ele sussurrou e a porta se abriu.

 

Ali Baba trouxe todo o ouro que podia carregar e voltou para a cidade. Ele decidiu que esperaria seus filhos crescerem mais, que trabalhassem e aprendessem sobre as dificuldades de se viver no mundo primeiro. Mas, eventualmente, ele contaria a eles sobre o seu segredo. A lenda conta que a caverna do tesouro, sob a porta entre as pedras da floresta, esconde o famoso tesouro de Ali Baba. E até hoje ela espera por aqueles que sabem quais são as palavras mágicas.

- FIM -

De Mil e Uma Noites

Adaptado/traduzido por Leonardo Bigio

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